Os sonhos são representações da realidade, onde podemos reviver situações de diversas formas, recriar cenários, vivenciar experiências que o inconsciente cria. Confira como e por que sonhamos e qual a resposta da ciência para esta área tão fascinante.
São 8 horas da manhã e você precisa apresentar aquele projeto muito importante na empresa. Na noite anterior, deixou tudo preparado. Slide com a apresentação, comentários para a equipe. No grande dia, foi para a empresa e simplesmente esqueceu o computador. Para piorar, não tinha uma cópia salva em nenhum outro lugar. Assustador, não é? Mas calma, isso foi só um sonho. Essa é uma experiência que todo o ser humano pode se identificar.
Mas afinal, por que passamos por isso? Por que sonhamos?
Essa foi uma das perguntas mais frequentes em 2014 feita pelos brasileiros que consultam o Google. E talvez uma das grandes preocupações daqueles que têm seus sonhos interrompidos ou que nem conseguem chegar neles, diante do grande problema em dormir bem que grande parte da população sofre no atual momento. Para a ciência, não existe uma resposta exata de o porquê nós sonhamos. O que existe, de acordo com neurocientistas, são indícios que podem nos ajudar a entender o motivo dos sonhos e para que eles servem.
Sendo assim, os especialistas acreditam que os sonhos são fragmentos da realidade que o cérebro recruta, sejam eles de novas ou velhas memórias, mas todas postas fora de ordem, diferente do que vivemos na realidade. Por isso, os sonhos são, às vezes, muito estranhos e surreais.
O coordenador do Centro de Memória da PUCRS, Ivan Izquierdo, explica que é possível, em uma mesma noite, sonhar com episódios que ocorreram na infância e, ao mesmo tempo, ter combinações com memórias mais recentes, como o que ocorreu há um ou dois dias.
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Por que sonhamos?
De acordo com Gustavo Soares, psiquiatra e psicanalista da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, sintetizar o significado dos sonhos, e explicar por que sonhamos, é ainda uma tarefa difícil. Mas foi a partir das análises de Sigmund Freud que os estudos começaram a tomar uma proporção diferente.
No livro Interpretação dos Sonhos, publicado por Freud, em 1905, o cientista descobriu que existe uma parte da mente chamada de inconsciente. Os sonhos, portanto, são representações da realidade, que ocorrem no inconsciente fora de ordem, formados pelo o que Freud chamou de “conteúdo inconsciente”.
De acordo com Soares, os sonhos têm então duas funções: proteger o sono e tratar de forma psicanalítica a vida de um. Como exemplo, o psiquiatra cita um sonho muito recorrente, sonhar com dentes quebrados, o qual muitas pessoas interpretam como algo ligado à morte.
Além das interpretações dos sonhos, sonhar está ligado ao que cada pessoa vive no cotidiano. Por exemplo, se você teve um dia estressante, ou brigou com alguém, pode ser que no sonho você reviva a situação, mas de outra forma. Ou seja, se na vida real você guardou sentimentos referentes à situação, talvez no sonho você se expresse de outra maneira, por não ter digerido bem o que ocorreu.
Apesar de alguns sonhos causarem a sensação de desconforto, como no caso de uma briga e um mal entendido, Soares acredita que sonhar faz bem para a saúde mental e que, assim como pensar, a função do sonho é muito importante para o nosso bem-estar. Isso porque, após uma noite de qualidade, o cérebro está pronto para receber novas informações.
Sonho e as fases do sono
Independentemente da idade, todos nós sonhamos. De forma geral, os sonhos acontecem durante a fase do sono REM, fase do sono profundo caracterizado pelo movimento rápido dos olhos. Em alguns casos, os sonhos também ocorrem durante a fase do sono não-REM, porém de forma mais leve.
Na fase REM, os músculos relaxam de forma completa, evitando que, durante o sono, tenhamos comportamentos motores. De acordo com pesquisas, não são apenas os seres humanos que sonham. Diversos estudos mostram que animais, como golfinhos, gatos, cachorros e macacos também sonham, sendo que as fases dos sonhos dos animais é bem parecida com o que acontece com as pessoas.
Pesquisas mostram que durante a noite temos, em média, de cinco a seis ciclos de sono, sendo divididos entre a fase 1, 2 e 3 e sono REM. Assim, quando atingimos o sono profundo (fase REM), temos pelo menos um sonho. Pessoas que possuem um sono de qualidade, ou seja, que realizam todos os ciclos do sono durante a noite, podem sonhar de cinco a seis vezes por noite.
Apesar de a maioria dos sonhos ser visuais, também é possível ter sonhos olfativos e auditivos, ou até mesmo várias sensações em um mesmo sonho. Além disso, sonhar é a forma que o inconsciente encontra para resolver qualquer desafio incompleto, seja ele um problema ou não. Por isso, ter uma boa noite de sono, sonhando, é importante para manter a qualidade de vida.
‘Zona quente’
Uma pesquisa realizada por cientistas da Universidade de Lausanne, na Suíça, e publicada na BBC News, mostrou que a área onde ocorrem as atividades cerebrais enquanto dormimos é chamada de “zona quente”. A diretora do estudo, Francesca Siclari, explica que esta é uma área extremamente vigilante do cérebro “sonhador”.
Ainda de acordo com Siclari, quando uma pessoa relata um sonho, a atividade cerebral se torna diferente na zona quente, já que é a região onde as áreas visuais ficam armazenadas, bem como outras áreas que ajudam a formar várias experiências sensoriais.
Assim, o estudo mostrou que, quando os pacientes estavam dormindo, a zona quente do cérebro ficava mais ativa, semelhante ao estado consciente. Quando estavam dormindo, mas não sonhando, a atividade cerebral era mais lenta. Siclari acredita que a zona quente do cérebro está ligada às fases do sono e opera como se fosse um interruptor.
Caso os cientistas descobrissem como este interruptor é iniciado, ou seja, o que faz com o que ele ligue ou desligue, seria possível saber o motivo de um sonho começar de repente ou acabar. De acordo com a cientista, a resposta poderia explicar qual a real utilidade dos sonhos e se, de alguma forma, poderíamos controlá-los.
Teorias sobre por que sonhamos
De acordo com pesquisas e observações ao longo dos anos, diversas teorias foram criadas para tentar explicar qual a função dos sonhos e como eles ocorrem. Dentre as mais conhecidas, temos:
Consolidação da memória – de acordo com esta teoria, o cérebro tenta, durante a noite, sintetizar todas as informações e lembranças que ocorreram ao longo do dia. Sendo assim, ele elimina as memórias menos importantes e armazena o que precisamos.
Porém, durante os sonhos, o que ocorre é a tentativa do cérebro de veicular duas coisas que normalmente existem de forma independente, mas que de alguma forma precisam estar ligadas. Isso explica porque temos sonhos estranhos, com lembranças do passado e do presente no mesmo cenário.
Simulação de ameaça – esta teoria afirma que os sonhos são a forma como as pessoas lidam com as ameaças, como se fossem uma prática do que fazer na vida real. Neles, a presença de força e de situações não corriqueiras, como lutar contra leões, fugir de uma situação de perigo, ou até mesmo como se portar diante de situações de constrangimento, são comuns.
Redução do medo – de acordo com esta teoria, é durante os sonhos que aprendemos a reduzir os níveis de preocupações que tivemos ao longo do dia. Quando acordados, acumulamos diversos sentimentos, medos, inseguranças. Ao dormir, podemos reviver as mesmas situações que causam aflição, porém em um contexto diferente. Portanto, de acordo com cientistas, os sonhos são formas de eliminar ou reduzir o medo em relação à determinada situação.
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